Segundo as coordenadoras do Projeto Saúde Mental no Trabalho, Ana Magnolia e Fernanda Duarte, modo de gestão pelo medo, pela ameaça de desemprego e escassez são comuns na categoria

Fenae promove na próxima quarta (25), o I Seminário sobre Saúde Mental dos empregados da Caixa. O evento em Brasília vai debater sobre saúde do trabalhador, assédio moral e suicídio na categoria bancária.

Na ocasião, a pós-doutora, psicóloga e professora da UnB, Ana Magnólia Mendes, vai apresentar projeto de prevenção ao adoecimento mental na Caixa.  O projeto faz parte das ações da campanha “Não Sofra Sozinho”, iniciativa para conscientizar e alertar para os altos índices de suicídio e adoecimento mental dos trabalhadores da Caixa. Além de incentivar a prevenção, a campanha também busca despertar a solidariedade e fomentar o debate acerca do tema.

Conversamos com a professora Ana Magnolia Mendes e a pesquisadora Fernanda Sousa Duarte, coordenadoras do Projeto Saude Mental no Trabalhores da Caixa para entender as causas do adoecimento em massa dos trabalhadores e sua íntima relação com o discurso capitalista colonial e modelo de gestão.

Segundo Ana Magnólia e Fernanda, o sofrimento se acumula e depois se manifesta no adoecimento físico ou psíquico, provocando diversos transtornos inclusive depressão, que pode levar ao suicídio, considerado uma das patologias mais radicais do atual mundo do trabalho.

Confira a entrevista completa:1- A partir da experiência acadêmica como pesquisadoras dos aspectos psicológicos envolvidos na relação capital X trabalho, e desenvolvido projetos com mais de uma categoria, vocês consideram que há características comuns entre as diversas atividades pesquisadas? Apontariam alguma característica como tipicamente da atividade bancária?

Há características comuns que se vinculam as condições de emprego no Brasil, por exemplo. A gestão pelo medo, pela ameaça de desemprego e escassez são comuns em diversas categorias que pesquisamos. Algo específico da categoria bancária são as restruturações econômicas e produtivas bastante evidentes nos últimos 30 anos e os impactos em níveis micro e macro. 

3 – Quais foram as principais conclusões chegadas com todos esses projetos junto à categoria bancária?

Foram diversos projetos desde o início dos anos 2000. A partir de 2013, iniciamos uma parceria com o Sindicato dos Bancários que estabeleceu um serviço de atendimento individual aos bancários a partir de diagnóstico realizado com o protocolo de riscos psicossociais relacionados ao trabalho (PROART). O projeto, além de prover atendimento individual de curto e média duração também possibilita a coleta de dados para investigar as relações entre trabalho e adoecimento ao longo dos anos.

O modo de gestão se apresentou nesses últimos 6 anos como um dos principais fatores relacionados ao adoecimento. O modo de gestão afeta o modo como as pessoas se relacionam umas com as outras no trabalho, assim como com suas tarefas. Quando falamos em modos de gestão, falamos desde os níveis micro como o modo como gerentes coordenam o trabalho em suas unidades até a forma como o banco prospecta objetivos para o futuro que vão impactar a divisão do trabalho no cotidiano do bancário. 

4 – Vocês tiveram acesso recentemente à pesquisa quantitativa realizada pela Fenae sobre a Saúde do Trabalhador da Caixa. Nas questões que abordam o sofrimento mental, alguma coisa em especial chamou a atenção, ou o quadro não difere significativamente em relação aos demais bancos?

Os resultados da pesquisa da Fenae em termos de sofrimento mental seguem tendências já encontradas em outros estudos com a categoria bancária. Em 2014, em pesquisa com o Sindicato dos Bancários de Brasília, tivemos a oportunidade de comparar os resultados entre bancos e não encontramos diferenças estatisticamente significativas entre eles. Claro que existem particularidades que derivam de especificidades do vínculo de emprego e dos planos de carreira de cada instituição, mas elas só podem ser acessadas em pesquisas qualitativas.

5 – Sobre o projeto de saúde mental dos bancários da Caixa recém-aprovado pela direção da Fenae e que será desenvolvido pela equipe de alunos de doutorado da UnB, sob a coordenação da professora Ana Magnólia, vocês poderiam antecipar em linhas gerais como será?

O projeto visa contextualizar os resultados encontrados na pesquisa da Fenae a fim de propor uma política de saúde mental baseada em evidências. Para isso, examinaremos a literatura científica existente sobre adoecimento mental e bancários. Buscaremos semelhanças e diferenças de resultados para mapear o cenário de adoecimento mental dos bancários, assim como a organização e condições de trabalho relacionados ao adoecimento mental. Dessa forma, mapeamos as evidências científicas sobre o tema para propor uma política de saúde mental no trabalho bancário. 

Serviço:

Local: San Marco Hotel – SHS – Quadra 5, Bloco C – Brasília

Data: 25 de setembro de 2019

Horário: 9h às 18h

Coordenação: Federação Nacional das Associações de Pessoal da Caixa – FENAE

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