A direção da Caixa Econômica Federal continua empenhada em apressar a venda das subsidiárias do banco público e avança na privatização do banco digital. Em entrevista ao Jornal O Estado de S. Paulo nesta terça-feira (17), o presidente da instituição, Pedro Guimarães, informou que deve encaminhar o pedido de abertura de capital do banco digital ao Banco Central ainda este mês.
“Após a aprovação do conselho de administração, vamos enviar o pedido ao Banco Central. Será este mês ainda. Já estamos conversando com o Banco Central sobre o banco digital”, disse Guimarães ao jornal. A intenção do presidente da Caixa é fazer o IPO (oferta inicial de ações) em listagem no Brasil e no exterior.
O banco digital ainda não está criado, mas Guimarães já anunciou o nome de quem vai presidi-lo – será a vice-presidente interina de logística e operações da instituição, Thays Cintra Vieira. O presidente da Caixa também tem planos para impulsionar este braço do banco para privatização – oferecer pela plataforma o microcrédito anunciado pelo Governo como forma de substituir o auxílio emergencial. Segundo Guimarães, a Caixa vai disponibilizar, no mínimo, R$ 10 bilhões nesta nova linha de crédito.
A troca do auxílio emergencial por crédito a juros já foi criticada pelo presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae), Sergio Takemoto. Ele avalia que 54,2 milhões de brasileiros ficarão desassistidos com o fim do auxílio – são os beneficiários do Cadastro Único.
Neste grupo está o público-alvo de Guimarães para oferecer empréstimo, em vez de assistência. No último sábado (14), o presidente da Caixa visitou, pelo programa Caixa Mais, as instalações da cooperativa de catadores de materiais recicláveis, em Cuiabá. A maioria dos trabalhadores é beneficiária do auxílio emergencial. Este público deve receber a oferta de crédito – e pagar juros. “Temos vários públicos: comércio, reciclagem, cooperativa, profissionais liberais. Eu estava no 82.º Caixa Mais Brasil, em Cuiabá, num lixão. Lá, tem uma comunidade com 35 membros e essas pessoas pegam o lixo e vendem para o reciclador. Todos têm CPF, receberam auxílio. São iniciativas como essa que vamos fazer”, disse o presidente do banco público.
Segundo o presidente da Fenae, a medida tem o objetivo de apressar a venda do banco digital. “Nós enxergamos dois problemas aí: o primeiro é que essas pessoas abriram a conta digital para receber o auxílio emergencial, justamente por não terem renda. Agora, com o fim do benefício, elas vão acabar tomando empréstimo porque não tem de onde tirar dinheiro para sobreviverem. Não somos contra a oferta de crédito, sabemos que ninguém é obrigado a contratar, mas o desespero vai fazer essas pessoas se endividarem. O outro problema é que a direção do banco quer fidelizar estes clientes para privatizar logo o banco digital”, avalia Takemoto.
A representante dos empregados no Conselho de Administração (CA) da Caixa, Rita Serrano, questiona a necessidade da criação e abertura de capital do braço digital do banco, já que os empregados conseguiram superar inúmeros desafios durante a pandemia – como a criação do aplicativo em tempo recorde, a abertura das poupanças digitais e o atendimento a mais da metade da população brasileira. Para a conselheira, esta é mais uma iniciativa do Governo para repartir e privatizar o banco público a partir de suas operações. “No caso do banco digital é ainda mais grave porque para criar o banco digital deve haver uma cisão da Caixa, pois o sistema operacional é um só”, alerta.