A crise causada pela pandemia confirmou a importância das empresas estatais como o Sistema Único de Saúde (SUS) e a Caixa Econômica Federal. O banco público demostrou ser imprescindível no socorro à população, com o pagamento do auxílio emergencial; e à economia, com a concessão de empréstimos ao setor produtivo. Ainda assim, o presidente do Banco, Pedro Guimarães, voltou a reforçar os planos de privatização da Caixa.

Em entrevista ao jornal Estadão na tarde desta terça-feira (23), Guimarães, confirmou a venda de setores estratégicos do banco público. “Nós podemos e iremos abrir o capital. Temos ainda algumas decisões internas para serem tomadas, mas o caminho está muito claro: abertura de capital das operações de seguros, de cartões, de asset [gestão de recursos] e uma discussão de loterias que passa por uma outra discussão legal”, disse.

Para Sérgio Takemoto, presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae), a declaração de Guimarães não é uma surpresa e reacende a intenção de privatizar o banco público, fundamental para auxiliar a população durante a pandemia e para reerguer a economia no período pós-crise.

Na opinião de Takemoto, com a crise econômica causada pela Covid-19, a Caixa mostrou, mais uma vez, seu papel imprescindível para os brasileiros e para a economia do País. Diante da omissão do governo e dos bancos privados, a Caixa assumiu, sozinha, a sua função social e realizou o pagamento do auxílio emergencial para mais de 64 milhões de brasileiros. E manteve, de pé, os outros programas que ajudam a população a enfrentar a crise”, ressaltou.

Além do pagamento do auxílio emergencial, agora a Caixa vai focar na oferta de crédito para as micro e pequenas empresas. Para o presidente da Fenae, é mais uma prova da fundamental contribuição da Caixa para fazer a economia do País voltar a girar.

Durante a entrevista, Guimarães ressaltou que a Caixa vai manter seu papel social, mas a venda dos quatro setores (seguros, de cartões, asset management e loteria) são importantes para a Caixa e “não são o coração do banco”. Takemoto discorda. “Atingem não só o coração como a razão de existir da Caixa como banco público. Estes setores são essenciais para sustentar os programas como o Minha Casa Minha Vida, Bolsa Família, Fies (Financiamento Estudantil) e outros tantos programas”, disse.

Como exemplo, Takemoto lembrou o balanço da Caixa divulgado em maio deste ano. As Loterias Caixa arrecadaram R$ 4 bilhões no primeiro trimestre. Cerca de R$ 1,5 bilhão foram transferidos aos programas sociais do Governo Federal nas áreas de seguridade social, esporte, cultura, segurança pública, educação e saúde. O repasse corresponde a 37,2% do total arrecadado. “De onde sairão estes recursos se a Loteria for vendida?”, questiona o presidente da Fenae.

Projeto de Lei prevê paralisação das privatizações até 2022 – Para tentar segurar “o ímpeto do Governo de entregar o País” com as privatizações, tramita na Câmara dos Deputados o PL 2715/2020, que propõe a suspensão das privatizações até 1 ano após o fim do estado de calamidade pública. Na prática, os processos de desestatização e desinvestimentos só poderão ser retomados em 2022.

Para o deputado Enio Verri (PT/PR), um dos autores do projeto, além de vender barato por conta da desvalorização das empresas diante da pandemia, a privatização dos setores anunciados por Guimarães também vai prejudicar a população. “Privatizar setores essenciais como o de cartões, loterias e o de seguros é um equívoco, dentro do princípio de reduzir a desigualdade regional e social no país. Se a Caixa fica menor ou mais frágil, sua capacidade de negociação ficará reduzida. Isso fará com que o banco passe a intervir menos na economia e na vida das pessoas mais pobres”, alerta.

As deputadas Fernanda Melchionna (Psol/RS), Joênia Wapichana (Rede/RR) e Perpétua Almeida (PCdoB/AC) também são autoras do PL, que recebeu 93% de apoio popular. Neste link é possível dar sua opinião e votar na enquete da Câmara: https://forms.camara.leg.br/ex/enquetes/2252846

 

Com informações da Fenae

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