Na primeira reunião com o novo presidente, Federação pede fortalecimento do banco, contratação de mais empregados, solução para o contencioso na Funcef e manutenção do Saúde Caixa
“Deixamos claro que defendemos a Caixa pública e forte para todos. Pode chamar de venda ou de abertura de capital, ambas são prejudiciais à população brasileira, pois o foco passa a ser o lucro e não o papel social.” Com essas palavras, o presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae), Jair Pedro Ferreira, retratou a primeira reunião dos representantes das entidades de empregados com a nova diretoria do banco, que pretende passar parte dos ativos da instituição ao mercado financeiro. A reunião ocorreu em Brasília (DF), nesta terça-feira (26), Dia Nacional de Luta dos trabalhadores contra a privatização do maior banco público e social da América Latina.
Pela Diretoria da Federação, além de Jair Ferreira, participaram ainda do encontro Sérgio Takemoto (vice-presidente) e Rachel de Araújo Weber (diretora de Juventude). “A importância da Caixa para o desenvolvimento do país e sua atuação estratégica no sentido de garantir o acesso aos serviços bancários integram o cotidiano de diversos municípios brasileiros. Nesses locais, muitas vezes, a agência da Caixa é a única de que dispõe a população”, explicou Takemoto.
A diretora Rachel Weber também botou o dedo na ferida: “O primeiro e fundamental passo é que a Caixa continue a desempenhar um papel decisivo na história do desenvolvimento econômico e social do Brasil, sem diminuir seu patrimônio, o que reduziria sua atuação”. Segundo ela, “difícil encontrar um cidadão que não tenha alguma relação com o banco, seja por causa do PIS, FGTS, casa própria, saneamento básico, infraestrutura urbana, loterias, seguro, poupança, Bolsa Família, operações de penhor”. E completou: “Esse cotidiano mostra que a instituição possui uma intrínseca matriz ética”.
No encontro, a Fenae e representantes de outras entidades discorreram sobre a importância da Caixa para a sociedade brasileira. “O movimento associativo dos empregados vem agindo em defesa de um banco que contribua para o desenvolvimento do país e do povo brasileiro”, disse Jair Ferreira, que participou da reunião ao lado de outras entidades representativas. Pela diretoria da Caixa, participaram da reunião o atual presidente, Pedro Guimarães, executivo do mercado especialista em privatizações e um dos responsáveis pela venda do Banespa, e mais quatro vice-presidentes.
Na pauta de reivindicações, além de apresentarem argumentos para o fortalecimento do banco e de sua relevância à sociedade, as entidades abordaram temas de interesse dos 84 mil empregados: a contratação de mais trabalhadores para suprir a carência de pessoal nas unidades, a solução para o contencioso judicial na Funcef e a extensão do Saúde Caixa para toda a categoria, sem discriminação de qualquer tipo.
A contratação de mais empregados também esteve em pauta, a começar pelos aprovados no concurso público de 2014. Na ocasião, o presidente da Fenae disse ser importante que a Caixa contrate. “Nos últimos anos o banco perdeu quase 17 mil postos de trabalho. Essa situação vem afetando as condições de trabalho já precárias, provocando adoecimento dos trabalhadores e comprometendo a qualidade do atendimento à população”, alertou.
Funcef e Saúde Caixa
Jair Ferreira também criticou o fato de o presidente da Caixa não ter entrado no debate sobre a importância de uma solução para o contencioso na Funcef, principal fator de déficit nos planos de benefícios. “Esse passivo é gerado por ações trabalhistas contra a Caixa e quem acaba pagando a dívida são os participantes do Fundação”, explicou o presidente da Fenae. Na conversa com Pedro Guimarães, Jair Ferreira ainda defendeu a manutenção do atual modelo de custeio do Saúde Caixa, pelo qual os empregados respondem por 30% do custo assistencial e o banco pelos 70% restantes, além da extensão do plano de saúde a todos os empregados.
Constaram ainda na pauta de reivindicações a interrupção do processo de reestruturação do banco, esclarecimentos sobre o fechamento de agências, valorização da mesa de negociações permanentes e respeito às conquistas históricas dos empregados. Segundo o presidente da Fenae, houve a cobrança ainda para que a Caixa respeite o encarreiramento e a questão profissional de cada empregado. “Os processos seletivos internos e os descomissionamentos precisam ter critérios transparentes e objetivos, para acabar com as arbitrariedades do processo”, lembrou.
O presidente da Fenae avaliou que o saldo positivo da reunião foi o compromisso assumido pelo atual presidente do banco de promover encontros periódicos com as entidades representativas, deixando para trás a postura até então adotada de não negociar com os representantes dos trabalhadores. “Vamos continuar pressionando por mais espaço e pelo atendimento das demandas dos empregados”, concluiu Jair Ferreira.
Dia Nacional de Luta
Enquanto as entidades representativas se reuniam com Pedro Guimarães, empregados de todo o país trabalhavam vestidos de preto no Dia Nacional de Luta contra o fatiamento da instituição e a venda da Loteria Instantânea Exclusiva (Lotex), cujo leilão foi remarcado para o dia 26 de abril.
Carta em defesa do banco público
Ao final da reunião com Pedro Guimarães, a Fenae protocolou na presidência da Caixa uma carta em defesa do banco público e social.