A pandemia e o grande número de morte entre os idosos vai abreviar a vida da população no Brasil. A pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Ana Amélia Camarano, estima que a Covid-19 vai reduzir a expectativa de vida do brasileiro em 2,2 anos. E deve piorar – a previsão foi baseada no número de mortes até dezembro de 2020. Com o agravamento da pandemia em 2021, a redução pode ser ainda maior.

 De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), esta é a primeira queda do indicador desde 1940 – neste ano, o tempo médio de vida do brasileiro era 45,5 anos. Em 2019, a média alcançou 76,6 anos de idade, um aumento de 31,1 anos.

 

 Estes dados constam na Tábua de Mortalidade para o Brasil de 2019, projetada pelo IBGE. Além de analisar a evolução da mortalidade da população, ela é utilizada como um dos parâmetros para determinar o fator previdenciário, que calcula o valor das aposentadorias dos trabalhadores sob o Regime Geral de Previdência Social, o INSS.

 Para a diretora de Saúde e Previdência da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae), Fabiana Matheus, a Covid-19 já deixaria profundas sequelas econômicas, sociais e emocionais no país. O agravante, ressalta Fabiana, é que se soma à doença uma condução desastrosa e desumana de Bolsonaro e sua equipe no combate à pandemia.

 Como exemplo de como o governo trabalha com a política do “quanto pior, melhor”, Fabiana lembrou um episódio que ocorreu no início da pandemia, quando uma assessora do ministro Paulo Guedes considerou as mortes dos idosos um fator positivo para o equilíbrio da Previdência Social.

Em março do ano passado, o Ministério da Saúde realizou uma reunião fechada para falar sobre as previsões de mortes generalizadas entre os idosos. Neste encontro, uma assessora do ministro da Economia, Paulo Guedes, e titular da Superintendência de Seguros Privados (Susep), Solange Vieira, teria dito que a concentração de morte entre idosos seria positiva para melhorar a Previdência. “É bom que as mortes se concentrem entre os idosos. Isso melhorará nosso desempenho econômico, pois reduzirá nosso déficit previdenciário”. A fala foi confirmada pelo epidemiologista Julio Croda à agência Reuters.

 “Infelizmente as expectativas macabras de Solange Vieira estão se concretizando. A expectativa de vida dos brasileiros está se reduzindo por conta do coronavírus e, obviamente, os sistemas previdenciários, tanto o geral quanto o complementar, serão impactados pelo mais trágico motivo”, disse Fabiana.  

A longevidade, de fato, afeta diretamente o equilíbrio/desequilíbrio dos planos de aposentadoria.  Na Previdência Complementar, a redução da expectativa de vida pode afetar os planos de benefício administrados pelos fundos de pensão. Nos planos de Benefício Definido (BD), onde há maior impacto dos déficits, a redução da expectativa de vida implica uma diminuição dos compromissos assumidos pelo plano, podendo gerar um resultado positivo. 

“A longevidade é uma conquista do ser humano. As vacinas, inclusive, são uma das razões para se viver mais e melhor. Estamos diante de um governo que não incentiva a vacinação e de integrantes do executivo que enxergam as mortes como um fator positivo. Falta um governo que trabalhe em favor da vida. Sem competência para resolver a Previdência Social, a longevidade passou a ser um problema e a morte dos idosos na pandemia, solução”, ressaltou a diretora de Saúde e Previdência da Fenae.

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