Depois de ter sido amplamente divulgado por vários veículos da imprensa o documentário “Não Toque em Meu Companheiro”, que conta detalhes sobre a mobilização dos trabalhadores da Caixa Econômica Federal durante a greve dos bancários em 1991, voltou a ser destaque na mídia. Desta vez, em matéria especial reproduzida pelo site The Intercept, que mostra como tudo aconteceu e relata depoimento do diretor de Formação da Fenae e ex-presidente da Federação, Jair Pedro Ferreira.

O que mais chama a atenção no documentário, conforme revela a matéria, é a constatação de que o discurso privatista e contrário aos servidores das forças políticas daquele tempo se repete hoje, no governo Bolsonaro.

A matéria assinada pelo repórter Pedro Nakamura oi veiculada nesta sexta-feira (18). Apresenta longa entrevista com Ferreira, empregado da Caixa desde 1989  que participou das lutas que impediram o desmonte do banco público durante o governo Collor. “É impressionante ver que as forças políticas que compunham o governo Collor são as mesmas do Bolsonaro, inclusive os discursos contra supostos marajás, ressaltou o dirigente.

Num depoimento longo e marcante, Jair Ferreira contou que “ o discurso de Bolsonaro retoma a retórica de Collor à época: que é preciso privatizar estatais, desburocratizar o estado e que sindicato é coisa de vagabundo”. Segundo ele, a campanha ‘Não toque em meu companheiro’ reintegrou 110 bancários exonerados pelo governo federal como retaliação após uma greve por reajuste salarial, em 1991.

O bancário foi um dos 110 demitidos e participou da mobilização de cerca de 35 mil funcionários da Caixa, que bancaram o salário dos mais de cem demitidos por um ano, até que fossem reintegrados ao banco. “Às vezes, a gente só aprende as coisas no enfrentamento. Sem ele, você perde essa consciência política”, afirmou.

“Era um tempo em que os sindicatos estavam fortalecidos, forjados em uma luta iniciada na resistência contra a ditadura e intensificada com as Diretas Já e a promulgação da Constituição de 1988. Um cenário bem diferente do atual, em que sindicatos estão enfraquecidos”, disse.

Documentário

O documentário foi lançado em junho passado e conta a história de Jair Ferreira e de outros 109 demitidos por Collor. Foi dirigido pela cineasta Maria Augusto Ramos. Durante 75 minutos, o filme mostra uma história de empatia e solidariedade que marcou a greve dos bancários em 1991, especialmente a da Caixa Econômica Federal.

Foi a época em que o então presidente, Fernando Collor, sob o pretexto de “moralizar” o serviço público, começou um desmonte das empresas públicas, retirou direitos e demitiu funcionários. O que levou empregados de todos os bancos a realizarem a sua mais famosa greve geral para reparar as injustiças aos trabalhadores e responder ao “arrocho salarial” do governo.

A greve durou 21 dias. E como apenas os empregados da Caixa foram punidos – 110 foram demitidos – teve início uma rede de solidariedades dos outros quase 45 mil funcionários do banco público. Juntos, eles iniciaram o movimento “Não Toque Meu Companheiro”, pagaram o salário dos demitidos e não sossegaram até a reintegração dos 110 colegas, em 1992.

 “Ninguém está acostumado a ser demitido e, neste caso, foram demissões injustas. Sofremos retaliação do Governo. Lutávamos pelos direitos de todos os empregados”, afirmou Jair Ferreira.

“Ao mesmo tempo em que essa história me comove, ela me angustia. Porque estamos vivendo outro momento, que é o oposto dessa luta e dessa mobilização que levou a várias conquistas”, destacou também a cineasta Maria Augusta Ramos.

Para o presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae), Sérgio Takamoto, o documentário “é uma oportunidade para que os empregados conheçam um dos momentos mais difíceis e mais ricos da nossa categoria”. “Não é fácil fazer a luta, não é fácil fazer a mobilização dos trabalhadores; mas sempre vale a pena”, acrescentou ele.

O documentário pode ser assistido nas plataformas streaming FilmeFilme, Vivo Play, Net Now, Looke e Oi Play. 

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